As Unidades Pediátricas de Cuidados Semi-Intensivos e Intensivos de um hospital público, referência em reabilitação de anomalias craniofaciais do interior do Estado de São Paulo, tem assistido um grande número de crianças que necessitam de cuidados especiais. Em alguns casos são indicados procedimentos cirúrgicos para garantir sua reabilitação, como a gastrostomia, realizados nas crianças com problemas acentuados de disfagia. Sabe-se que no Brasil, muito pouco se conhece sobre a atenção prestada a essas crianças e seus familiares. Os avanços da prática médica têm provocado mudanças no cuidado dessas crianças. Antes cuidadas e mantidas no ambiente hospitalar, hoje permanecem em suas casas sob os cuidados dos seus pais, que passam a assumir o papel de, além de genitores, cuidadores. Objetivo: desvelar a percepção de cuidadores informais de crianças gastrostomizadas sobre o processo de cuidar. Método: considerando o objetivo proposto, foi necessária sua operacionalização em três etapas. A primeira foi comtemplada após a realização de um levantamento bibliográfico nas temáticas do estudo nos descritores: enfermagem, medicina, psicologia, ostomia, gastrostomia e cuidadores. Na segunda etapa foi realizada a coleta de dados, para isso foi realizada uma entrevista semiestruturada, por meio de um questionário validado por um estudo piloto e avaliação de dois profissionais conhecedores do assunto. A terceira etapa foi contemplada pela análise dos resultados obtidos. A análise de conteúdo na modalidade temática, sugerida por Bardin, foi o método escolhido para o tratamento dos resultados, seguindo os passos propostos por Graneheim e Lundman. Como critérios de exclusão utilizou-se a não experiência em prestar esse cuidado no ambiente domiciliar, o número dos entrevistados foi determinado pelo critério de saturação dos dados. As entrevistas foram gravadas e transcritas. Os aspectos éticos da pesquisa foram constituídos na aprovação pelo Comitê de Ética e pesquisa das instituições envolvidas, sob o n° 1.096.157, CAAE 43223015.6.0000.5413 e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados: colaboraram com o estudo 13 cuidadores de crianças gastrostomizadas, internadas nas unidades do local do estudo. A partir dos discursos e considerando a trajetória metodológica percorrida, as categorias temáticas que imergiram foram: Aceitação e Superação; Gastrostomia: um caminho na promoção da saúde; Pouco envolvimento de outros familiares e preconceitos; Equipes de enfermagem e os processos de Ensino em Saúde. Considerações finais: este estudo permitiu identificar quais foram os medos, anseios e inseguranças no processo de cuidar da criança com gastrostomia, como também permitiu refletir sobre os modelos de atuação dos profissionais da saúde, com enfoque nas equipes de enfermagem. Desta forma, esta pesquisa poderá mobilizar os integrantes das equipes de saúde bem como os demais sistemas envolvidos no cuidado, a pensar em estratégias inovadoras para garantir um cuidado hospitalar e domiciliar para essas crianças e seus familiares, que busque não apenas o aspecto biológico, mas também aspectos psicológicos e socioculturais que envolvem o processo de cuidar, proporcionando maior autonomia e empoderamento desses cuidadores.